sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Caos na Ibovespa e terrorismo na imprensa

Nesta terça-feira (9/9) uma crise abalou a nossa economia neoliberalista. Segundo os jornais mais lidos brasileiros, o problema ocorreu “depois que os preços de commodities sofreram queda”. As quedas de preços das matérias primas como gás natural, petróleo e metais derrubaram o índice do Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores do país. Com o resultado desta terça, a bolsa paulista acumula queda de 13% em setembro e 24,1% no ano. Na véspera, o desempenho do mercado brasileiro já havia sido ruim: baixa de 3,96%.

Realmente, matérias de economia são difíceis de engolir. Expressões como “commodities” ou “índice de desvalorização” provocam uma fuga em massa da sala de TV. Pensando nesse fenômeno, é comum ver meios de comunicação populares como o Jornal Nacional e Jornal da Record tentando simplificar o tema para que o telespectador não se sinta tão burro.

Segundo o JN, nossa economia estava seguindo “o caminho vermelho para o fundo do poço” e que “o dólar era o culpado”. Já o Jornal da Record fez uma análise tanto quanto mediana, citando mais as bolsas internacionais do que a própria Ibovespa. Mas não seria o caso de repensar o enfoque, trazê-lo para mais perto do espectador?

Este tema deu muito pano para manga porque o Ibovespa permaneceu no vermelho. O Jornal da Record voltou a falar sobre o assunto na quinta-feira da mesma semana e deu um pouco mais de crédito aos problemas do Brasil. Contudo, o JN não se preocupou em dar mais detalhes sobre o assunto.

Diferente do ocorrido no horário nobre, o Jornal da Globo superou a expectativa de ambos jornais, explicando com detalhes claros a situação em que o Ibovespa se encontrava e indicando as futuras saídas para a bolsa paulista. A matéria de 6 minutos trouxe um analista que falou economês por longos 3 minutos. Pelo menos deixaram para o analista a parte complicada. Nos dias seguintes, quarta e quinta-feira, o jornal ainda voltou ao assunto.

ALL NEWS – Band News e CBN mostraram tudo que era importante comentar, além de citar os preços cotados nas bolsas no final do dia. A Band News voltou com o mesmo tema na quarta-feira, dando uma cobertura mais apurada ao assunto, mas não voltou a falar sobre.

A CBN pode receber mais créditos porque acompanhou o desenvolvimento mais vezes durante a semana. Apoiada em vários comentaristas e especialistas, ela produziu matérias que variavam de cinco a doze minutos de duração – consideradas grandes para uma rádio. A rádio analisou de forma mais clara e conseguiu explicar em minúcias os pontos que ficaram brancos na cabeça dos ouvintes.

CAOS NO IMPRESSO? – Primeiro dia de crise. Matérias desesperadas nas capas das sessões de economia. O Globo disse Dias sombrios no império; O Estado de São Paulo explica: “Temor sobre expansão global aumenta e analistas já vêem pânico”. Os jornalistas não pouparam palavras desse tipo nas páginas completas do primeiro dia após o “caos” trazido pela queda.

Em O Estado de São Paulo, levamos duas colunas inteiras para ouvir a palavra commodities, termo tão explicado nas outras mídias. A queda é diretamente ligada à alta do dólar sem, no entanto, ser explicado o porquê.

O Globo conta como o pessimismo gerado na economia americana, devido à crise nas hipotecas do país, levou a Bovespa à queda. Ponto! Mas ponto perdido ao continuar a leitura cheia de números e análises pouco claras.

Mas engraçado como o jornal disse que o caos estava instalado: o dia seguinte desmentiu o desespero. Com a chamada “Bovespa reage e dólar também sobe”, O Estado de São Paulo volta ao assunto em seu pobre único parágrafo cheio de números. Poderíamos perguntar a Claudia Violante, Denise Abarca e Paula Laier, jornalistas que assinaram a matéria, de onde foi o release resumido.

O Globo não voltou ao assunto. Fim aos dias sombrios.

Por Carolina Lima, Gustavo Oliveira, Priscila Botão e Rayanne Portugal

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