sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Jornais de Muleta

Existe um grande deficiente nas paraolimpíadas: os jornais. Depois de toda a pompa e espetáculo feito nas olimpíadas agora parece que os jornalistas estão cansados, ou pelo menos não têm condições físicas de correr atrás da matéria. Apesar de vencerem qualquer dificuldade e encherem de orgulho o Brasil, os atletas são homenageados com pequenos espaços nos impressos.
A verdade é que o Brasil gosta daqueles que não se esforçam, porque nas olimpíadas daqueles ditos "normais" as capas estavam lotadas de fotos, imagens e vários cadernos especiais. A crítica é a mesma todos os anos, o país não investe no esporte, mas o investimento que é menor aos para-atletas é bem utilizado porque eles estão se transformando em ouro, enquanto os milhões investidos nos hiper-atletas transformaram-se no máximo em bronze.
Engraçado, se o anormal é noticia e se atletas portadores de deficiência estão dando um show do outro lado do mundo, mesmo sem investimento, porque isso não é noticiado? Porque o preconceito existe, da parte do leitor que não está afim de ver o que não o conforta, nem de acompanhar o esforço daqueles que vencem o dobro de barreiras para estarem onde estão. Não é bonito, não é legal comentar dos atletas "não-oficiais" do Brasil e do mundo.
O rostinho bonito digno de páginas de jornais se chama Phelps, um estrangeiro, quando deveria ser Daniel Dias. No fim das contas é que o brasileiro deve gostar de sofrer e ir atrás daqueles que te maltratam, que ficam no quase, enquanto atletas espetaculares estão no canto das notícias e sendo tratados como se tivessem fazendo um grande favor para um país deficiente de ouro e riquíssimo de talentos na Paraolimpíadas.


Meios de Comunicação Avaliados

Jornais
Nos dois jornais analisados, o Globo e O Estado de São Paulo, as matérias são pequenas e enxutas. Em uma mesma reportagem, são citados vários esportes. As fotos, porém, são marcantes. No Globo, o momento da vitória nos 100 m borboleta de André Brasil. No Estadão, o momento de André, competindo na prova.
Na matéria do jornal O Globo, “Nadador André Brasil conquista ouro e bate seu próprio recorde mundial” são dedicadas 36 linhas para o medalhista olímpico. O restante da matéria, mais 52 linhas, é dedicado a 10 outros atletas. Já na do Estadão, “Dois Ouros e um Bronze”, o foco maior é para os dois atletas que conquistaram a medalha de ouro, André Brasil e Daniel Dias. A reportagem fala, basicamente, dos dois campeões. E apenas cita outros esportes.
Agora, pergunto: se a matéria fosse sobre os nossos atletas que competiram nas olimpíadas, não haveria um caderno separando cada um dos esportes? Se duvidar, falando da vida, desde a infância, de cada um dos atletas, como Ronaldinho Gaúcho, ou Kaká.
O que é engraçado é que os atletas são paraolímpicos e na primeira semana de olimpíadas são quase mais medalhas do que as conquistadas na olimpíada de atletas sem nenhuma deficiência física. Não quero dizer que nossos atletas são incapazes, mas pegar metade de uma folha de jornal e dar destaque para 11 atletas, é de menos!
Nossa capacidade é muita, tanto nos atletas paraolímpicos, como nos que não são. Porém, parece faltar um pouco mais de empenho dos nossos profissionais do esporte e dos nossos profissionais de imprensa. É preciso dar mais valor aos atletas, sejam eles quem forem.

Rádios

A matéria "Mais duas medalhas de ouro para o Brasil", do jornalista Marco Antônio Reis, da Rádio Senado foi gravada ao vivo no dia nove de setembro. Ela está bem completa. Além de dar a notícia que faz parte do lead, o jornalista responde dúvidas dos ouvintes.
Um exemplo disso é quando cita a curiosidade que as pessoas têm em saber como funciona a classificação dos atletas com deficiência, que ele explica detalhadamente. Quando ele responde a outra dúvida, de por que o Brasil sempre tem bons resultados nas paraolimpíadas e não nas olimpíadas entra no quesito político, citando a legislação que trata do deficiente de forma engajada, mas o repórter deixa a desejar com o excesso de comentários, o que é comum nas matérias de esporte.
Na matéria da CBN, "Brasil conquista mais 10 medalhas nas Paraolimpíadas em Pequim", também do dia nove, apenas dá a notícia, sem que haja comentários, além de ouvir os atletas ganhadores, o que passa mais emoção e a sensação de proximidade com o evento, apesar de ser uma matéria gravada. O conteúdo das duas matérias está bacana, se comparado com os dos outros meios de comunicação encontrados bem menos superficial.


Jornais Televisivos

O Jornal Nacional exibiu notícias das paraolimpíadas nos dias 8, 10 e 11 de setembro porque o Brasil ganhou medalhas de ouro. As matérias são muito menores do que as das olimpíadas. O jornal da Record transmitiu às 20h dos dias 08, 09 10 e 11. Apesar de o Jornal Nacional transmitir menos notas do que a das olimpíadas “normais”, a cobertura foi melhor do que a do Jornal da Record. No entanto, o Jornal da Record transmitiu todos os dias, pelo menos uma nota sobre as paraolimpíadas no período analisado.
O César Cielo, atleta olímpico, ganhou medalha de ouro nas olimpíadas e a imprensa fez um escândalo, apareceu em todos os veículos de comunicação com muito destaque, enquanto que o ganhador paraolímpico, Daniel Dias, ganhou medalha de ouro também na natação e ganhou um mero ‘parabéns’ sem comparações com Cielo. Enquanto nas olimpíadas, independente do esporte, se algum brasileiro chegasse perto do podium, era reportado nos jornais. Nas paraolimpíadas, muitos brasileiros ganharam medalhas e foram reportados como esportes que ganharam a medalha, e só. Sem a devida atenção que mereceriam.
Percebe-se que ainda existe muito preconceito com os deficientes brasileiros. Ambos os jornais reportaram as paraolimpíadas, o da Record mais que o da globo, mais o que pode se perceber é que as paraolimpíadas não dão tanta audiência quanto as olimpíadas “normais” e por isso merece menos espaço e atenção nos espaços dos jornais.
Grupo: Anna Karla, Caroline Figueira, Eugifran e Uyara Kamayurá

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