Brasília é uma avenida engarrafada. A contar pelos cadernos Cidades dos veículos locais, Brasília ébasicamente uma grande bolha de trânsito. As principais notícias dasemana, mesmo sem nenhum grande acidente ou fato inusitado, foramsobre trânsito. A escolha revela o público que os jornais pretendematingir. Os jornais escrevem para a classe média que se esbalda emfinanciamento para ter carro novo e ao mesmo tempo exige soluções decurto prazo para o problema do engarrafamento. Na cobertura, problemas como andar de ônibus ou van são secundários.
Jornal de Brasília
Na edição de 14 de maio, o Jornal de Brasília fez uma dura crítica aoprotesto da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura(Contag). Primeiro, foram 33 linhas para falar sobre o engarrafamentoe a contagem regressiva para a marca de um milhão de carros. Atentativa foi fazer alarde, mas os números ficaram burocráticos. Eis oinício do texto: "O Distrito Federal está em contagem regressiva. Napróxima sexta-feira, a frota de veículos emplacados pode atingir ahistórica marca de um milhão de unidades. Somente entre segunda eontem, 250 novos modelos foramvendidos. Na semana passada, a média foi de 400 carros emplacados acada dia no Detran."
Para o Jornal de Brasília, as razões e dificuldades vividas pelostrabalhadores rurais não têm importância. A notícia é que elesatrapalham o trânsito. "Se em dias normais o motorista já enfrenta umverdadeiro calvário para chegar ao serviço, imagine quando ocorre umapasseata no coração de Brasília". O jornal ignorou o ato político.Explica-se: para o leitor, chegar atrasado no trabalho é maisimportante do que pessoas que vem de diversos cantos do País parareclamar.
Correio Braziliense
O jornal adotou a teoria da "contagem regressiva" até a chegada do carro 1 milhão. As matérias de trânsito estão todos os dias nas páginas, em muitos casos vira capa, e em quase todas elas, o carro 1 milhão é citado. É como se este único carro fosse o culpado pelo trânsito caótico da capital. É como se a vida do brasiliense fosse mudar depois que o veículo chegasse às ruas. Quando o dia D chegar, o carro, a concessionária e o condutor ganharão os 15 minutos de fama e depois o assunto será esquecido. Depois, terão que achar um novo "gancho" para criticar o trânsito de Brasília.
Na matéria do Correio de 27 de abril, a primeira frase do texto já mostra o desespero pela chegada do novo problema às ruas: "Brasília está a três semanas de entrar na lista das cidades brasileiras com mais de um milhão de veículos. Em 23 dias, no máximo, o carro de número 1 milhão ganhará as ruas". Enquanto o mundo não acaba, o jornal pressiona as autoridades para fazer obras, melhorar o transporte público e incentivar as pessoas a trocarem a rotina por práticas mais saudáveis. E chega a criar soluções que nem os responsáveis cogitam:
"A adoção de medidas restritivas para Brasília já ronda as discussões entre especialistas em trânsito. Mas o governo local descarta qualquer iniciativa nesse sentido a curto prazo. “Medidas antipáticas só virão em último caso, se o Brasília Integrada não for suficiente para retirar os carros das ruas”, garantiu Alberto Fraga, secretário de Transportes".
O Correio bate sempre na mesma tecla, como forma de incentivar o governo a planejar a situação para o trânsito não ficar ainda pior. E só. O assunto é repetitivo. E acontece no mundo inteiro. Desde o dia 1 de maio, quase que diariamente o assunto está pautado. A última matéria sobre o tema foi publicada em 11 de maio, questionando a falta de vagas e cobrando mais uma vez uma solução.
Jornal de Brasília
Na edição de 14 de maio, o Jornal de Brasília fez uma dura crítica aoprotesto da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura(Contag). Primeiro, foram 33 linhas para falar sobre o engarrafamentoe a contagem regressiva para a marca de um milhão de carros. Atentativa foi fazer alarde, mas os números ficaram burocráticos. Eis oinício do texto: "O Distrito Federal está em contagem regressiva. Napróxima sexta-feira, a frota de veículos emplacados pode atingir ahistórica marca de um milhão de unidades. Somente entre segunda eontem, 250 novos modelos foramvendidos. Na semana passada, a média foi de 400 carros emplacados acada dia no Detran."
Para o Jornal de Brasília, as razões e dificuldades vividas pelostrabalhadores rurais não têm importância. A notícia é que elesatrapalham o trânsito. "Se em dias normais o motorista já enfrenta umverdadeiro calvário para chegar ao serviço, imagine quando ocorre umapasseata no coração de Brasília". O jornal ignorou o ato político.Explica-se: para o leitor, chegar atrasado no trabalho é maisimportante do que pessoas que vem de diversos cantos do País parareclamar.
Correio Braziliense
O jornal adotou a teoria da "contagem regressiva" até a chegada do carro 1 milhão. As matérias de trânsito estão todos os dias nas páginas, em muitos casos vira capa, e em quase todas elas, o carro 1 milhão é citado. É como se este único carro fosse o culpado pelo trânsito caótico da capital. É como se a vida do brasiliense fosse mudar depois que o veículo chegasse às ruas. Quando o dia D chegar, o carro, a concessionária e o condutor ganharão os 15 minutos de fama e depois o assunto será esquecido. Depois, terão que achar um novo "gancho" para criticar o trânsito de Brasília.
Na matéria do Correio de 27 de abril, a primeira frase do texto já mostra o desespero pela chegada do novo problema às ruas: "Brasília está a três semanas de entrar na lista das cidades brasileiras com mais de um milhão de veículos. Em 23 dias, no máximo, o carro de número 1 milhão ganhará as ruas". Enquanto o mundo não acaba, o jornal pressiona as autoridades para fazer obras, melhorar o transporte público e incentivar as pessoas a trocarem a rotina por práticas mais saudáveis. E chega a criar soluções que nem os responsáveis cogitam:
"A adoção de medidas restritivas para Brasília já ronda as discussões entre especialistas em trânsito. Mas o governo local descarta qualquer iniciativa nesse sentido a curto prazo. “Medidas antipáticas só virão em último caso, se o Brasília Integrada não for suficiente para retirar os carros das ruas”, garantiu Alberto Fraga, secretário de Transportes".
O Correio bate sempre na mesma tecla, como forma de incentivar o governo a planejar a situação para o trânsito não ficar ainda pior. E só. O assunto é repetitivo. E acontece no mundo inteiro. Desde o dia 1 de maio, quase que diariamente o assunto está pautado. A última matéria sobre o tema foi publicada em 11 de maio, questionando a falta de vagas e cobrando mais uma vez uma solução.
O jornal pede todos os dias respostas rápidas à Secretaria dos Transportes. Enquanto isso, tem que haver um culpado. E este único carro virou a bandeira do jornal para pressionar o governo de forma indireta. Mas no final das contas, o jeito é esperar. A primeira matéria do caso saiu há quatro meses e desde então o jornal é assolado com constantes "análises da notícia" e "motivos" para tocar no assunto. Na matéria do dia 11, o assunto volta a cair na incapacidade do transporte público, nos grandes engarrafamentos, e o carro volta a ser citado. Mas a diferença desta para as outras matérias -- como sempre deve acontecer para não parecer realmente repetitivo -- das é a grande análise e a comparação com outras cidades do Brasil e do mundo. Personagens exóticas também valem: "Denir optou por ir de bicicleta para o trabalho: autonomia e liberdade", prega o jornal.
O problema de agora é decidir quem vai ser o culpado pelo trânsito depois que o carro sair da fábrica. O secretário é que não vai ser.
O problema de agora é decidir quem vai ser o culpado pelo trânsito depois que o carro sair da fábrica. O secretário é que não vai ser.
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