sexta-feira, 30 de maio de 2008

Má notícia é crítica. Boa notícia não é elogio.


O caderno de Economia dos jornais espelha o viés editorial em relação ao governo. Ao citar a criação de um novo imposto ou inflação, sobram alfinetadas e comentários negativos. Quando se trata de crescimento econômico ou da estabilidade, os jornalistas preferem se calar – ou pelo menos se ater aos números. Boa notícia, acerto do “Brasil”; má notícia, erro do “governo”.

Impresso
Com o título “Sobram R$ 6,8 bi, e governo quer mais”, o Correio Braziliense é direto na hora de criticar a tentativa do governo recriar a CPMF. Logo pelo título fica claro que a ação do governo é um “abuso”. E o lide consegue usar até bons resultados do governo para criticá-lo. “O mesmo governo que está trabalhando pesado para ressuscitar a CPMF, alegando falta de recursos para a saúde, festejou ontem uma sobra recorde de dinheiro”. Percebe-se, sem muita dificuldade, que o jornal interpreta livremente os números.

Não há interpretações livres, porém, quando a pauta é uma boa notícia. Também nessa semana, o “mesmo governo” recebeu o “grau de investimento”. Dessa vez, sobram números frios. O Estado de São Paulo é um exemplo. “A agência de classificação de risco de crédito Fitch, a terceira maior do mundo, elevou ontem o Brasil ao chamado grau de investimento. A empresa é a segunda do ramo a conceder ao País o conceito”... “Das três grandes da área, apenas a Moody’s ainda não considera o Brasil um lugar seguro para os investidores internacionais”.

O curioso é que mesmo quando há elogios à economia não há qualquer referência ao governo. Parece, para os jornais, que o bom resultado é fruto espontâneo do mercado. “A melhora impressionante nas finanças externas, resultante, em parte, de preços mais altos de commodities, mas também de boa gestão política, ao lado do status de credor soberano líquido, tornou o Brasil bem mais resistente a choques financeiros globais”, afirmou a diretora sênior do grupo de ratings soberanos da Fitch, Shelly Shetty. O jornal esqueceu de avisar quem fez a boa política. Não esqueceram na hora de criticar.

Blogs
O blog de Miriam Leitão, do jornal O Globo, mostra uma nota sobre o caso Fitch. Ela começa o texto de forma positiva, mostrando que o Brasil está alcançando a “perfeição”, de ter os três mais importantes fundos mundiais a favor. “Isso significa que cumprimos todos os requisitos para receber esses investidores”, cita. Mas logo na frase seguinte, ela muda o discurso. Começa a tratar o assunto no viés da manchete “Brasil agora vai precisar avançar na área fiscal” e mostrar que nada é bom suficiente e tem algum problema. Cita que o grau alcançado agora pelo país é fruto dos últimos 15 anos e não só do governo atual e que ainda há uma “luz amarela”, pois o Brasil está com déficit da em conta corrente. O último parágrafo diz: “Por enquanto, o fato é que marcamos o segundo gol em uma partida que precisámos vencer por essa diferença.”

O blog do Vicente Nunes, no site do Correio Braziliense, conta em tempo real a conversa por teleconferência dos jornalistas com Shelly Shetty, da Fitch. O tom é pessimista e em momento algum faz elogio a “conquista” brasileira. A frase: “Shelly Shelt disse acreditar que não haverá mudanças na política econômica brasileira a partir de 2010, seja quem for o próximo presidente da República”. Não há análise e o leitor fica perdido sem entender o assunto.

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