Grupo: Juliana Boechat, Filipe Coutinho e Marcella Rocha.
Na quarta-feira, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, passou quase dez horas prestando depoimento na Comissão de Infra-estrutura do Senado. Enquanto Dilma falava, algumas matérias já haviam sido publicadas nos sites da Veja e da Carta Capital (clique para ler).
A revista Veja optou por fazer uma cobertura mais seca. Ao mesmo tempo deu a impressão de que havia novidades no depoimento. Vale lembrar que Dilma já havia negado o dossiê desde que a história começou. "Não é um dossiê, é um banco de dados", não cansa de repetir. Além disso, um dos momentos que mais repercutiu, o embate entre a ministra e o senador Agripino Maia, foi esquecido. Como este fato ocorreu logo no início da audiência, pode-se entender que a Veja preferiu omitir a derrota da oposição. "Dilma admitiu que houve sim vazamento de informações sigilosas de seu ministério. "Consideramos que foram vazadas informações absolutamente privativas da Casa Civil. Está sob investigação quem vazou, porque vazou isto", informa a matéria. O interessante é que este fato não é novo e não foi um dos pontos altos do dia.
Assim como a Veja, a Carta Capital não deu destaque ao embate entre Dilma e Agripino. O fato foi citado, mas sem a importância dada pelas outras mídias. "O senador Agripino Maia (RN), líder do ex-PFL, associou o vazamento do dossiê aos tempos da ditadura. Agripino, filiado à legenda oriunda do principal partido do governo militar – a Arena – disse "ter medo da volta ao Estado policialesco". Dilma, visivelmente nervosa e com o dedo em riste, rebateu a "reclamação" do líder do ex-PFL. "Tenho orgulho de ter mentido para torturador e o que acontece hoje não tem a menor similaridade com aqueles tempos", afirmou a ministra". A revista preferiu enfatizar o aspecto de espetáculo do depoimento. A ida de Dilma foi o fato político mais importante do ano até agora. A Carta Capital detalhou mais o "evento" e esqueceu que havia uma discussão política por trás do fato. Foi uma cobertura diferente, mas não necessariamente pior ou melhor.
Assim como Veja, a Folha de São Paulo do dia seguinte “esquentou” as informações dadas pela ministra sobre o dossiê. “A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) mudou novamente a versão sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante depoimento ontem na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, de mais de nove horas de duração, a ministra afirmou que as informações do governo tucano não eram mais sigilosas pois o caráter "reservado" dos dados já tinha caducado. A versão é baseada em parecer recente do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)”, afirma a matéria.
O jornal deu mais importância à investigação sobre o dossiê do que sobre o jogo de governo e oposição. Na matéria central, inclusive, foi dado um histórico sobre o dossiê. “Em fevereiro, diante da iminência da instalação da CPI que iria investigar gastos com cartões corporativos, a Casa Civil reabriu processos de prestações de contas de FHC e lançou dados num arquivo paralelo ao Suprim, o sistema oficial de controle de despesas de suprimentos de fundos do Planalto”.
A escolha da FSP é resultado de uma linha editorial dada desde o início do caso. Como a Folha deu um dos mais importantes furos, sobre a possível autora do vazamento, faz sentido manter esse tipo de cobertura.
Em O Globo, o foco foi justamente o embate de governo e oposição. “Um erro de um dos líderes da oposição, o senador Agripino Maia (DEM-RN), que lembrou entrevista em que a ministra Dilma Rousseff dizia ter mentido durante sessões de tortura, quando presa pela ditadura militar, favoreceu o desempenho dela durante depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, onde falou sobre o PAC”, foi o início da matéria.
O jornal, assim como Carta Capital, mostrou a tentativa de Dilma apenas repetir a versão inicial sobre o dossiê. “Em nove horas de depoimento, Dilma manteve a versão de que a Casa Civil não preparou um dossiê, e sim um banco de dados sobre o governo FHC”.
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