sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cavalo de tróia leva flores e bandidos para mansão

O último domingo (10/05), Dia das Mães, foi marcante para Ilde Maksoud, ex- mulher do empresário Henry Maksoud. Uma quadrilha de 20 assaltantes invadiu a mansão dela, localizada nos Jardins, na zona sul de São Paulo. Os bandidos levaram telas valiosas como "O Cangaceiro" e "Retrato de Maria", de Portinari, o quadro "Figura em Azul", de Tarsila do Amaral, além de dinheiro e outros objetos. Ela, a nora e quatro funcionários foram rendidos e amarrados pelos criminosos, mas ninguém ficou ferido. Segundo testemunhas, os bandidos se disfarçaram de entregadores de flores para ter acesso ao imóvel.
Essa foi a notícia que circulou pelos principais jornais de todo país durante a semana. A cobertura feita pelo Correio Braziliense foi de extrema superficialidade, informou, sem nenhum diferencial, apenas o básico, o que está sendo dito por aí. Os textos foram curtos, e, de certa forma, “pobres” pela falta de aspas, que poderiam ter dado uma vivacidade para o conteúdo. O acontecido foi noticiado de segunda a quinta, e teve continuidade até a polícia achar as obras roubadas. Já a Folha de São Paulo investiu forças, palavras, apuração, fotos, aspas, e tudo que o Correio não mostrou por completo. A notícia foi enriquecida por depoimentos de testemunhas, fontes oficiais e civis, e pôs fotos desde a primeira publicação. Com o decorrer da semana, as matérias noticiavam as informações detalhadas sobre o assalto e sobre as medidas que estavam sendo tomadas.
O assalto foi praticamente esquecido pelas rádios CBN e BandNews, que noticiaram o acontecido na segunda-feira (11/05) e na quarta – feira (13/05), de forma rápida e sem muito detalhe. A rádio CBN chegou a falar sobre o roubo duas vezes no dia onze. Coincidência ou não, as duas rádios noticiaram o assalto, praticamente da mesma forma, nos mesmos dias. A única diferença foi que a BandNews transmitiu a fala de um especialista falando sobre a danificação das telas. Cadê a criatividade atrativa e o humor? Afinal, não houve nenhuma grande tragédia, apenas a da preguiça por parte dos jornalistas.
Na cobertura televisiva, a Rede Globo foi a primeira a noticiar o assalto, no Fantástico, no dia 10. A matéria não tinha muitas informações, que se fixa nas telas de Portinari e da Tarsila, não fala da tela "Crucificação de Jesus", de Orlando Tevez.
No dia seguinte, o Bom Dia Brasil deu continuidade, mencionando a quarta tela roubada (Crucificação) e classificando o roubo como "planejado nos mínimos detalhes". Já fala que a quadrilha tinha 20 integrantes, e tem aquele tom clássico de indignação sempre que um bairro nobre é alvo de assalto. A matéria dá também um histórico breve dos roubos de obras de arte ocorridos no último ano em SP. O anúncio da descoberta das obras em uma rua da Zona Oeste foi feito no SPTV 1ª edição, com a descrição dos suspeitos. Na 2ª Edição o assunto foi abordado novamente, com menção à danificação do quadro "O Cangaceiro", de Portinari. O assunto foi mencionado no Jornal Nacional, que deu como lead a divulgação do retrato falado dos suspeitos e o abandono dos quadros.
Na TV Band News, o roubo foi mencionado apenas na segunda-feira, mas a emissora já falou do retrato-falado dos criminosos, que só foi divulgado na Globo depois que os quadros foram recuperados. A emissora também citou o valor das telas (3,5 milhões). É interessante, porque, mesmo não tendo o furo, a Band procura dar a informação completa e enxuta, mas com um viés um pouco diferente do da Globo. Os públicos também são diferentes: no SPTV, um jornal local, a coisa é mais policial, se concentra na descrição do crime, fotos de delegacia, etc. no Bom Dia Brasil, jornal mais cult, fala do valor cultural das obras, e da invasão a um bairro nobre. O Band News é mais ágil e vai direto ao ponto. A banalização da notícia e da violência faz com que a cobertura de um roubo de obras de arte, do acervo pessoal de uma pessoa, se torne mais importante (pela freqüência da noticiabilidade mostrada), do que a cobertura da morte diária de meninos e meninas, homens e mulheres, nas favelas espalhadas pelo Brasil. É por isso que, pelo menos desta vez, eu levanto e bato palmas para as rádios.

Catarina Seligman, Kameni Kuhn e Roberta Machado

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