Paulo Freire (1921-1997), ícone da pedagogia brasileira, sempre alimentou a concepção de que a educação constitui singular ferramenta de construção e libertação do homem, que, por meio dela, o indivíduo passa a reconhecer o papel da História e as dimensões de sua identidade cultural. Logo, para ele, a educação correta para um país é a que se preocupa com o exercício democrático. E, diante da relevância do tema para a estrutura social de uma nação, os veículos de comunicação deveriam atuar como agentes fiscalizadores desse processo, alertando sobre os riscos de metodologias de ensino equivocadas e denunciando o descaso de autoridades, bem como destacando as ações inovadoras na área.
Em nossa triste realidade, não é o que acontece. Preocupados com pautas e temas factuais, que surtam impacto de imediato e, por assim dizer, correspondam aos interesses financeiros de seus mantenedores, os veículos de comunicação brasileiros, de certa forma, abstém-se do papel de instrumento de combate às mazelas sociais e relegam-se à função de superficiais ferramentas informativas. Tomemos como exemplo, então, a semana que está por findar. Os principais meios de comunicação do país reservaram ínfimos espaços a repercussões provenientes da educação. Notas sobre algum problema estrutural em uma escola no Paraná ou algum escândalo de merenda no Sul disputaram espaço com assuntos ligados a editorias nacionais e de cidades. Entretanto, nos últimos dias – sobretudo na quinta-feira (14) – o tema conseguiu romper a barreira de gelo e a discussão referente às novas regras do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) esteve presente na mídia tupiniquim.
Com o anúncio de que o ministro da Educação, Fernando Haddad, aceitara a obrigatoriedade do Exame para a obtenção do diploma, já a partir do próximo ano, a pauta conseguiu emplacar chamadas nas capas da grande maioria dos jornais impressos. O Correio Braziliense produziu matéria repleta de informações e de declarações dos principais personagens da história (ministro, secretários estaduais, especialistas, os populares etc). A Folha de S. Paulo, por sua vez, não se estendeu muito no assunto. O diário consolidou um texto simples e objetivo, da sucursal de Brasília, e explicou como será o novo conteúdo das questões. Em ambos os impressos não foram concedidos espaços para o tema nas editorias de opinião.
Nas rádios, o Enem também deu o tom dos desdobramentos de educação da semana. Na CBN, o colunista Gilberto Dimenstein, um homem de aparente paixão pela causa da educação e da cidadania, considerou que a obrigatoriedade do exame vai revolucionar o ensino médio. Na BandNews, por outro lado, a tonalidade foi menos entusiástica. Lá, a visão é mais realista. A emissora preferiu endossar a opinião do professor Rení Castioni (UnB), e levantou a bandeira de que as mudanças vão exigir uma reestruturação profunda na área.
O telejornalismo brasileiro do horário nobre não prima pelo aprofundamento de pautas, exceto quando estas configuram vieses especiais. E com os dois principais telejornais da atualidade – Jornal da Nacional, da Rede Globo, e o Jornal da Record – não foi diferente. Neles, a educação só esteve em voga com o advento das novas regras para o Exame, caso contrário, as temáticas educacionais passariam batidas nesta semana. Tanto em um quanto no outro, a notícia teve destaque médio, com reportagens completas, porém sucintas, nas quais, normalmente, Haddad era ouvido. Por fim, mesmo que rapidamente, o jornal Nacional procurou os principais interessados e atingidos com as mudanças: os estudantes de escolas públicas.
Diego Gomes, Gerson Marlon, Guilherme Fontes e Wiliam Amorim
sexta-feira, 15 de maio de 2009
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