sexta-feira, 22 de maio de 2009

A misteriosa miopatia da ministra

No último dia 27 de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou pela primeira vez em público a batalha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com um câncer linfático e reafirmou: ”Dilma é minha candidata”. A ministra, que antes já tinha cada passo vigiado, virou o maior alvo da imprensa. Afinal, a sucessora de Lula passando por um tratamento médico, é um prato cheio. Na madrugada de terça-feira desta semana, dia 19 de maio, Dilma sentiu fortes dores nas pernas por causa do tratamento quimioterápico ao qual está sendo submetida, e por isso foi levada em um jato-ambulância para o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

O jornal Correio Braziliense publicou boletins diários durante toda a semana sobre o quadro clínico e sobre a futura candidatura de Dilma. As matérias foram bem completas e claras a respeito do câncer. Além das publicações, Dilma conseguiu chamar a atenção em notas diárias feitas por políticos sobre o estado de saúde dela. O jornal Folha de São Paulo fez uma cobertura ainda mais completa sobre a doença da ministra. Tão completa que conseguiu fazer com que muitos políticos comentassem sobre ela, em vários dias da semana. Na quinta- feira, por exemplo, o nome de Dilma, saiu em oito, isso mesmo, oito matérias do jornal. Uma excelente cobertura, que tirou as dúvidas dos leitores sobre a saúde da ministra.

A Rádio Band News FM fez uma cobertura clara e competente sobre a internação de Dilma. Na primeira nota, explicaram que a ministra havia sido diagnosticada com miopatia, mal muito comum aos pacientes de câncer, e que Dilma poderia seguir normalmente sua vida política. Em outra nota publicada, a rádio divulgou que a ministra recebeu alta, e concedeu uma entrevista com muita simpatia aos repórteres. A Rádio CBN fez uma cobertura mais detalhada, mas nem por isso com mais informações. Eram divulgados boletins freqüentes, falando da internação, que todos aguardavam o boletim médico, que o estado de saúde da ministra era estável. Na disputa acirrada por mais novidades, chegaram a divulgar o mesmo boletim em horários diferentes. Em um dos boletins, a rádio chegou a levantar a hipótese de que a ministra deveria se afastar temporariamente do governo por causa do tratamento.

Quem assistiu ao Jornal da Globo de segunda-feira viu uma série de boletins, disparados ao longo do programa, tentando dar informações sobre o estado de saúde de Dilma Rousseff. A cada bloco as notícias eram interrompidas apenas para avisar que ela ainda não havia chegado ao hospital Sírio-Libanês no jato-ambulância. Roberto Kovalick fez um link direto da China por telefone para dizer como o presidente Lula reagiu à notícia, e tentou disfarçar a falta de novidades falando da relação comercial entre os países. Logo de início, as únicas informações que a imprensa tinha eram que a ministra poderia ter miopatia - dores nas pernas causadas pela quimioterapia. Mas, enquanto os médicos não achavam nada de errado com a ministra, a Globo e a Band não desistiam. Imagens dos boletins médicos, que davam negativo a cada exame, a informação de que Dilma havia chegado de madrugada em uma cadeira de rodas, muitos infográficos explicando detalhadamente como a doença e o tratamento afetavam o corpo da política, a suspeita de trombose, isso tudo levou a um raciocínio do qual a mídia não abre mão: Lula poderia concorrer a um terceiro mandato se a saúde de Dilma não a permitisse fazê-lo? Afinal, seria essa uma discussão válida, quando a mulher ainda estava ali, fazendo exames?
Fosse a falta de assunto na semana, fosse a fixação dos jornalistas por Dilma, era visível um enxame de repórteres em frente ao hospital Sírio-Libanês, todos dizendo a mesma coisa – ainda não encontraram nada de errado. Todo o clima de tensão foi quebrado quando Dilma saiu sorridente do hospital, um dia antes do previsto, fazendo piadas da própria situação: “infelizmente não emagreci, e estou usando uma peruquinha básica, como vocês podem notar”.

Catarina Seligman, Kameni Kuhn e Roberta Machado.

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