A enchente no Norte e no Nordeste do país é assunto constante na mídia. Como em casos anteriores de desastres naturais, não há muitos a quem culpar, e os jornais na maioria das vezes limitam-se a contar as novas vítimas. Alguns tentam dar nomes aos que morrem sob as águas, e sentido às imagens de telhados submersos e resgates que parecem se repetir diariamente. E se repetem. Todos os dias a Globo falou no assunto nos dois jornais de maior audiência do Brasil, o Bom Dia Brasil e o Jornal Nacional. Algumas vezes as enchentes eram abordadas de formas diferentes no mesmo dia.
Os telejornais cumpriram bem com o papel de manter os telespectadores informados de cada novidade sobre o assunto. A cada dia novas matérias sobre os atingidos pelas chuvas no Pará, na Bahia, Amazonas, Piauí e Maranhão aumentavam a contagem de mortes e de desabrigados. É uma lista sem fim: rodovias fechadas, aulas suspensas, problemas de abastecimento, desabamentos, crianças desaparecidas e até saques às casas de quem já perdeu tudo na enchente. O problema é que é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que não há como ser muito detalhista. Algumas vezes as matérias páram para escutar quem viu a tragédia de perto, quem perdeu a casa, quem quase perdeu a vida, mas na maioria das vezes os depoimentos das vítimas se perdem em meio aos números da Defesa Civil.
Claro que é importante dizer que 34 mil famílias foram atingidas pelas chuvas, 1250 delas em abrigos que também estão sendo inundados, ao todo 737.934 pessoas que tiveram a vida mudada pela água, segundo a CBN, e 500 mil, de acordo com a Globo (os números mudam a cada dia e a cada veículo). Mas, mais do que se ater a números – dos quais nem mesmo a Defesa Civil tem certeza absoluta, pois a CBN afirma que 5 mortes não foram incluídas no relatório oficial – é importante ouvir o que o cidadão tem a dizer sobre isso. Para onde vão os desabrigados? Há comida? As doações são o suficiente? O Governo está agindo? Como posso fazer para ajudar? A mídia, pela primeira vez em muito tempo, parece correr atrás dessas informações, em vez de dar espaço para comentaristas que se limitam a culpar o governo.
O climatologista Carlos Nobre deu uma entrevista ao Bom Dia Brasil, e relacionou o assunto com as secas do Sul do país. Para Carlos, o fenômeno climático ocorre no mundo todo, e é fruto do aquecimento global. Sergio Abranches, da rede CBN, também fez essa relação. Para Abranches, as chuvas são um aviso do planeta, assim como a seca do Amazonas de 2005. O comentarista falou da chuva de 12 horas que presenciou em Belém, e descreveu em detalhes os acidentes que geralmente são ilustrados de forma simplista pela mídia.
A Folha de S.Paulo falou diariamente sobre o assunto, com dados completos, histórias dos desabrigados, fotos ilustrativas, sugestões de soluções e por vezes até mesmo um pouco de emoção, coisa rara nas matérias da Folha. Além de chamar todos os dias a atenção dos leitores para o que deve ser o maior desastre natural do ano, a Folha de S.Paulo publicou repetidamente fotos e chamadas na capa do jornal, provando o quanto o assunto é uma preocupação nacional. Já o Correio Braziliense citou as enchentes três vezes na semana, em matérias de tamanho modesto, mas recheadas de informação e depoimentos de quem vive o drama.
A CBN ouviu a governadora do Pará Ana Julia Carepa, que afirmou que a ajuda está a caminho de quem precisa. A Band News ouviu o presidente, que culpou a burocracia pela demora na reconstrução das áreas atingidas. O Correio Braziliense também ouviu o presidente Lula, e as soluções que ele sugeriu para o problema. O Jornal Nacional e o Bom Dia Brasil colocaram à disposição dos telespectadores as informações de como ajudar. Os meios de comunicação estão fazendo uma cobertura constante e completa do cenário, que infelizmente se agrava a cada reportagem.
Catarina Seligman, Kameni Kuhn e Roberta Machado
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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