sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Até tu, Incra?

O “pulmão do mundo” está com uma baita bronquite. O desmatamento da floresta amazônica quase triplicou em comparação a agosto do ano passado. Dessa vez, além dos fazendeiros, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão federal responsável por administrar as terras públicas da União, figura como um dos principais responsáveis pela destruição da floresta queridinha dos brasileiros – e dos americanos, dos chineses, dos europeus...
Com a aparente falta de espaço para assentar o Incra, começou o imprensa-imprensa. A mídia nacional resolveu fazer barulho. Aliando o gancho ambiental à esfera política, o Jornal da Record noticiou o impacto dos desmatamentos causados pelos assentamentos do Incra, e cobrou explicações do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que saiu pela tangente prometendo mudanças.
O posicionamento do Jornal da Globo foi de fiscalizador. Com uma matéria de dois minutos e meio, divulgou a lista dos maiores desmatadores da região amazônica. Os assentamentos do Incra ocuparam os seis primeiros lugares da lista fornecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
Como todo latifundiário, o Incra protestou. Nas matérias publicadas pelo Correio Braziliense, Ralf Hackbart criticou a lista do Ibama e contestou os critérios técnicos usados pelo órgão. O jornal abriu espaço – aliás, a matéria inteira - para os argumentos do presidente do Incra que, para o Jornal da Record, chegou a dar a seguinte declaração: "Eu acho que o Incra é o que mais se controla".
O rádio também chiou. Pouco. A Band News tem 30 colunistas, mas nenhum deles fez qualquer comentário sobre o desmatamento, durante toda a semana. Para não passar em branco, a rádio trouxe uma reportagem equilibrada da repórter Michelle Mattos. A matéria contou com sonoras de – tchanã! - Carlos Minc e Ralf Hackbart.
Saiu mais informado quem sintonizou a CBN Brasil. Em dois dias, a emissora levou ao ar três matérias sobre o assunto. Sem muito barulho, seguiu o protocolo com sonoras dos dois lados.
O G1 e o Estadão – que nem papel gastam para as publicações – fizeram a melhor cobertura. Os portais online somaram 21 matérias vinculadas ao assunto. O Estadão apostou em agressividade. O G1 manteve a linha informativa. Mas, ao que tudo indica, se depender da imprensa brasileira a Amazônia será rebaixada de floresta para bosque, logo logo.

Ana Cândida Pena, Caroline Morais, Fabíola Souza, Letícia Abreu, Luana Carvalho, Morena Mascarenhas

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