sexta-feira, 3 de outubro de 2008

EI! FUTSAL É FUTEBOL!!!

O futebol... ah, o futebol. O ópio do povo... Quando se fala em Copa do Mundo de futebol, o Brasil fica ouriçado, só se fala nisso. Os adultos param de trabalhar e as crianças param de estudar, e tudo com a anuência do governo. O Jornal Nacional monta acampamento em frente à concentração do time brasileiro, entrevista jogadores, torcedores, apresenta informações sobre a cidade-sede, os campos, sobra até para as camareiras dos hotéis.

E se dissermos que a Copa do Mundo será no Brasil? Melhor: Será no Brasil e em questão de dias?

Nada.

Nada... nem um pio.

Apenas o canto dos pássaros e o som das copas das árvores balançando ao vento.

Mas tudo tem uma explicação. Nesse caso, há um detalhe pequenininho, mas muito importante. A Copa do Mundo de Futebol de Salão começou no Brasil. De Salão, eu disse. Nos dias 27 a 29 de setembro já falavam da Copa de futebol de campo que acontecerá no longínquo 2014, também por aqui. Mas nada de futsal.

Assim, o futebol de salão só passou a existir para o Jornal Nacional no dia 30 de setembro, depois que a Copa havia começado (no mesmo dia, pela manhã), e olha que a emissora tem contrato de exclusividade de transmissão. E pelo que vimos só foi mencionado porque o escrete canarinho havia entrado em campo e dizimado o Japão por 12 x 1. Mostraram os gols e pronto, não se falou de nada depois. A Copa do Mundo, que está sendo realizada em Brasília e no Rio de Janeiro, foi ignorada pelo Jornal Nacional antes de seu início.

E essa foi a toada durante toda a semana. No dia 01/10 o JN mostrou a seleção da Itália que não tem italianos. São 14 jogadores nascidos em algum lugar entre o Oiapoque e o Chuí, muito longe da Bota. De italiana, as raízes, segundo os próprios jogadores; depois a nossa querida Fátima Bernardes anunciou a transmissão do jogo da seleção brasileira que aconteceria no dia seguinte e só.

Na noite seguinte, como já era de se esperar, uma reportagem sobre o massacre pra cima dos simpáticos jogadores/meninos/aprendizes/fãs das Ilhas Salomão. 21 x 0, com autoridade. O fato de o evento estar sendo realizado no Brasil foi quase que totalmente ignorado. Não se falou da grande reforma feita para o evento no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, nem da Cidade Maravilhosa, a outra sede. Ficou tudo por isso mesmo. Se a Copa do Mundo de futsal estivesse acontecendo em Dudinka, daria praticamente na mesma.

E a Record nem isso. Como não está transmitindo o campeonato, a TV do Bispo fez bico, deu de ombros e virou as costas, com aquela cara de “tô nem aí, tô nem aí...”. Outras coisas de futebol foram faladas, mas não sobre o campeonato. Se fosse o campeonato paulista de futsal e a Record estivesse transmitindo, eles fariam um mega especial, com doze mil câmeras no ginásio, aquela palhaçadinha toda. Deixa eles. Para a “Recó” vai o Troféu Saco de M.®, que me ocorreu agora.

Ligando o rádio e caçando as notícias como um leão atrás de um grupo de cervos perdidos e assustados (mas muito rápidos), pudemos encontrar na Band News uma matéria mais ou menos sem vergonha sobre o jogo da nossa seleção e uma geral sobre a Copa. Longe de ser fantástico, mas pelo menos mostrou que sabe o que está acontecendo debaixo do seu nariz.

Agora vamos ao bom trabalho dos impressos, essa galera boa que tem tempo para conversar com as fontes, pesquisar, fazer gráficos bonitinhos e cadernos especiais.
A Folha fez uma cobertura legal, com matérias durante toda a semana. Na matéria de terça, data em que começou o mundial, a Folha se deu ao gentil trabalho de explicar um pouco sobre a história do esporte e deu detalhes sobre as quantias gastas no campeonato. Competente, eficiente e convincente.

O Jornal O Globo, por sua vez, é o grande campeão desse post e leva o Troféu Balacobaco®, que também acabei de inventar. O Globo fez uma grande cobertura da Copa do Mundo de Futsal nessa semana compreendida entre o dia 27/09 e 02/10. Na última terça-feira, o jornal saiu com um caderno especial sobre o evento, destacando o calendário da competição – que não está tão fácil de se encontrar por aí – e as cidades-sedes dos jogos. As matérias estavam bem elaboradas, em sua grande maioria, com dados relevantes e informações importantes para quem quisesse ir assistir às partidas, como endereço, acesso aos locais dos jogos, preços e afins. Não satisfeito, o impresso ainda fez um raio-x de cada país que participa da competição, destacando as principais conquistas de cada seleção, quem é o técnico e os principais jogadores dos times. Digno de uma copa do mundo de futebol de grama. Coisa linda de se ver.
Além disso, O Globo fez uma boa cobertura durante toda a semana, sempre procurando manter o leitor ligado na competição.

Quiçá as empresas de comunicação fossem mais dedicadas a outras modalidades além do futebol masculino tradicional. O incentivo ao esporte seria outro, e não sairíamos rindo feito bestas com uma pífia 23ª colocação no quadro de medalhas em Pequim e apenas três medalhas de ouro. Pra frente Brasil...


Marcelo Brandão, Nathalia Frensch, Amilton Leando, Raquel Bernardes, Erik Lima

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